Eu, que não sigo futebol. Eu, que adoro ver os jogos da selecção. Quero dizer que: sou fã da D. Dolores. Pus à mão, em https://anabelamotaribeiro.pt, uma entrevista que lhe fiz há uns anos, e em que fica evidente porque é que: em mais de 800 entrevistas escritas, ela é uma das minhas preferidas (aquelas lágrimas, também eu as chorei). Viva a D. Dolores, viva Portugal!
Passei a adolescência a cantar “Foi por ela”, “Lembra-me um sonho lindo”, “Namoro”. Foi assim que aprendi o que era sumaúma ou a palavra “fímbria”. Sempre me chamaram mais as canções de amor que todas as outras. Muitos anos depois, mostrei esta toada a um adolescente, e o feitiço continuou, Sim, Fausto. Sabia que estava doente, mas, Não, Fausto.
Cláudia Simões disse ao Público: “Vou nem que seja até ao fim do mundo”. Eu quero juntar a minha voz à indignação e luta para que lhe seja feita justiça.
Procurei uma esplanada em cima do mar. Música aos berros. Disse pra mim mesma: que basqueiro. Ou seja, chego ao Porto e saem-me palavras que não uso em Lisboa. Deve querer dizer que ainda é a minha casa.
Alguém imagina o mundo sem Chico Buarque? Inconcebível. Chico faz 80 anos: viva! Como diz Wilson das Neves: “Chico é um caso à parte, não tem comparação. Ele é “o cara”! Outros estão querendo ser, e ele é. É, mas não se acha. Ele acha que é igual a todo o mundo. Aí é que ‘tá a diferença. E segundo o samba, “quem acha vive se perdendo”.” Devo-lhe tanta felicidade. Em https://anabelamotaribeiro.pt/ a crónica daquele dia em que conheci Chico Buarque. (Além de ser o mais lindo do mundo, et cetera e tal.)
“- Fala-se da infidelidade como o grande fantasma das relações conjugais. É? – Não. O grande problema das relações conjugais é as pessoas deixarem de gostar uma da outra, obviamente. – Obviamente? – Hoje as pessoas separam-se porque são infelizes na relação conjugal. E são infelizes quando deixam de gostar ou quando deixam de sentir que a outra pessoa gosta delas.” José Gameiro numa entrevista que não esqueço: porque, além de falar do que escuta no espaço terapêutico, falou dos seus pais enquanto casal. Em https://anabelamotaribeiro.pt/ Pintura do Magritte.
Estas flores (que ainda duram) são para: D., que terminou a quimioterapia. U., que fez o segundo ciclo de quimioterapia. L., que vai ser operada nas próximas semanas. K., que está em pleno tratamento. São para as mulheres que enfrentam a doença. Quando a “Aurora” d’ O Quarto do Bebé me aconselhou a ter flores por perto, compreendi que não era conversa de chacha. Era mesmo importante ver plantas que nos lembram o ciclo da vida. Muita coragem para todas. E único recado para as demais: vigilância apertada, não facilitar. Por outras palavras: “A próxima pessoa que me falar de excesso de medicina, excesso de radiação, excesso de zelo, terapias alternativas, naturismos e o caralho, leva um murro.”
“Criança não é mãe”. Na luta. No Brasil (onde projecto de lei quer equiparar aborto a homicídio), onde for preciso. Infelizmente ainda é muito preciso, nas formas mais diversas, em diversas geografias. Esta é uma das razões pelas quais sou feminista e defensora das quotas. Os problemas são diferentes, múltiplos, a raiz é comum: menorização ancestral da mulher.
«Você bebe que nem uma esponja…». Senhor Pessoa aguentava o embate da aguardente pelo meio da tarde. Levantava-se com ar solene e anunciava: «Vou ao Abel». Pegava no chapéu, compunha os óculos, não chegava a esboçar um sorriso. O Abel era uma sucursal do Abel Pereira da Fonseca. Uma fotografia tirada por Manuel Martins da Hora mostra-o «Em flagrante delitro» (assim se dedicou a Ofélia Queiroz no verso do exemplar que lhe ofereceu). Depois regressava ao escritório. Moitinho de Almeida tinha 16 anos, aos olhos de Pessoa era ainda o Luís, o outro era para ele o Senhor Pessoa. O senhor bebe como uma esponja… «Como uma esponja? Como uma loja de esponjas com armazém anexo!». Um outro (Fernando) António. Texto completo em https://anabelamotaribeiro.pt/
Escrevi sobre a minha mãe infatigável a partir das Mulheres do meu País da Maria Lamas. Está no Público de hoje, acompanhando a saída de mais um fascículo. Obrigada ao João Pinto de Sousa pelo convite. E que sorte ser fotografada pela Luísa Ferreira.
O Pedro Couceiro e eu na Gala dos Pequenos Cantores da Figueira da Foz: há 44 anos! Hoje coincidimos no Conselho Geral da Universidade de Coimbra, de que somos membros. Ele já não canta Eu Já Namoro, eu já não me lembro da letra d’ O meu Amigo Extraterrestre (escrita pelo Pires Cabral!).
Tenho uma amiga que tem um cerejal. Só a ideia de ver um cerejal já ilumina. Em Resende. Rivaliza com Fundão. Há dias comprei as primeiras e únicas cerejas e o dono da mercearia sentenciou: estão ao preço de jóias. Ontem a minha amiga deu-me uma caixinha generosa, advertiu que ainda não estavam no ponto; e contudo deram 15 a 0 a todas as outras (comentário portuense e com sotaque de Cedofeita de quem desbastou a caixa comigo). Restaram estas. Melhor fruta que há, e que só há agora. Saber que há o tempo das cerejas também dá alento. Alimenta a espera.
Como diz a Eliane Robert Moraes, é quase um poema concreto. Não fosse ser o horror puritano e punitivo do Portugal de 1953. A minha mão naquilo: a biografia da Maria Teresa Horta pela Patrícia Reis.
Universidade Coimbra 10 Junho (fascismo nunca mais!) 500 anos Camões E estudantes gritando: free Palestine!
14 anos sem Saramago: “A vida é breve, mas cabe nela muito mais do que somos capazes de viver”. Nesta vida breve, Saramago passou do rapaz que andou descalço e comprou os primeiros livros já adulto, com dinheiro emprestado, a escritor consagrado que recebe das mãos do rei da Suécia o mais importante prémio literário do mundo. Dir-se-ia que viveu muito mais do que seria conjecturável, que distância assombrosa percorreu…” Recuperei em https://anabelamotaribeiro.pt um texto que escrevi pelos 20 anos do Nobel. Fotografia da Estelle Valente em Lanzarote.
Duas coisas da semana passada: uma muito boa, uma muito má. A péssima: a vitória da extrema direita em França. A maravilhosa: a atribuição do prémio Camões a Adélia Prado, poeta amada e mítica, daquelas que me fazem pensar: que bom que o português é a nossa língua materna. (Post de pausa pra café e de pessoa que recusa sucumbir ao pessimismo mais que justificado destes tempos.)
“O futebol às vezes têm momentos chatíssimos!, 20 minutos em que não interessa na-da, na-da, 20 minutos e não há uma jogada decente. «Os gajos não chutam à baliza nem nada…». E de repente… A vida faz-se numa sucessão de repentes. O prazer do golo: este pico de alegria para quem marca e de tristeza para quem sofre, não tem paralelo com nenhum outro. Há uma massa de gente que está à espera daquele golo. Dá-se um choque de paixões. O que é curioso no futebol é que dá para gregos e troianos. Dá para os finórios que lêem Borges e dá para a malta da rua. O futebol não admite a derrota. Não se pode admitir jogar para perder. Isso já vem no leite materno: um gajo quer logo ganhar. Quer ser melhor, quer conseguir o objecto que o outro não tem, aquelas coisas assim.” O grande Dinis Machado. Explicado assim, até uma pessoa como eu (que não segue o futebol) fica fascinada. Bamos lá cambada, ok? Na fotografia: Chico, Eusébio, Mário Coluna (encontro de improváveis, a mesma alegria). Leiam em https://anabelamotaribeiro.pt/
Ainda sob o encantamento de ouvir o Mário Lúcio Sousa (amizade pra sempre, depois do FeLiCidade, comigo, com o André e. Teodósio, que filmou, com a Bárbara Reis, que moderou a conversa). Cresce a vontade de ir a Cabo Verde…
Sobre que é Mamma Roma? Classes sociais, a estrada (que é a vida), os mortos de fome que percorrem a estrada, a pobreza, uma mãe e um filho, a Pietà? Ontem, na Casa do Cinema Manoel de Oliveira, avançámos algumas possibilidades, fomos até ao Édipo Rei, à biografia de Pasolini, à Madona que Magnani é. Obrigada à Beatriz Batarda e ao Pedro Mexia pelos contributos e aos tantos que foram. Sessão esgotada há dias e aquela sensação de o assombro continuar durante dias… Foi uma alegria adicional ter na plateia o Luís Miguel Cintra (mestre, chamou-lhe Beatriz) e o Pedro estar a lançar a sua segunda antologia de poemas. Pus em https://anabelamotaribeiro.pt/ entrevistas que lhes fiz, e a única que fiz a Oliveira. O ciclo Um Filme Falado volta no primeiro sábado de Julho com Sunset Boulevard. A única tristeza veio depois: soubemos que a poeta Maria Quintans se estava a ir. Ela, que gostava tanto de cinema, e que esperávamos encontrar sempre nestes círculos. Ainda sem palavras para o absurdo de a vida mudar num instante.
Quando vi Anna Magnani no Belíssima (Visconti), n’ O Amor (Rossellini), no Mamma Roma (Pasolini) achei que não era possível alguém encarnar assim a Vida e a Terra, talvez a Mãe. Sábado, às 17h, exibe-se este filme com comentários de Beatriz Batarda e Pedro Mexia. Na Casa do Cinema Manoel de Oliveira, em Serralves. Eu organizei o ciclo (Um Filme Falado) e faço a moderação.
Fico comovida com o florescimento contínuo d’ O Quarto do Bebé, um ano depois da edição. A leitura atenta e anotada é da artista brasileira Yuli Anastassakis. Como sou fã da obra dela, cheia de raízes, casas, a protecção das plantas, o onírico: tudo bordado em linho e com as marcas da memória e do tempo)! A Yuli vive em Portugal há 6 anos. A força da sua obra amparou-me num tempo sombrio; e agora o meu Quarto encosta-se na sua paisagem.
Uma violoncelista mandou-me esta mensagem: “O Bebé anda a ouvir o 21 de Mozart (Antonio Rosado) e a 10a de Schostakovich pelo Ensemble Orquestral da Beira Interior na Covilhã”. Pus no Spotify o ambiente sonoro do meu romance (indissociável, por exemplo, da “Chanson des Vieux Amants” do Jacques Brel, que uso na epígrafe: “dans cette chambre sans berceau”; quem leu o livro, sabe o que representa o quarto sem berço). Mas agora juntam-se outras sonoridades, vindas dos leitores. Que alegria. Obrigada, Vanessa.
Sunset Boulevard é um clássico absoluto de Billy Wilder. Em português tem o título O Crepúsculo dos Deuses, o que está muito bem para falar da passagem do tempo. A artista plástica Adriana Molder, a escritora Patrícia Portela e eu vamos partir daqui para comentar o filme (e ver em grande ecrã!) no próximo sábado, às 5, em mais uma sessão do ciclo Um Filme Falado. Na Casa do Cinema Manoel de Oliveira, em Serralves. Juntem-se a nós. As fotografias das deusas são da Estelle Valente.
“O Crepúsculo dos Deuses”: prontos para o close up? Daqui a uma semana, a artista plástica Adriana Molder e a escritora Patrícia Portela discutem o clássico de Billy Wilder. Eu modero e juntas olhamos para o passar do tempo. Um Filme Falado: Os Temas de Oliveira. Na Casa do Cinema Manoel de Oliveira, em Serralves. Dia 6 Julho, sábado, 17h.